Guilherme Fonseca Faro
| Advogados
| Data: 06.05.2024,9:48.
Sociedade alienista com a advocacia.
No clássico literário "O Alienista", de Machado de Assis, é possível traçar um interessante paralelo com as percepções e comportamentos sociais em relação à profissão de advogado. A obra, reconhecida por sua crítica social mordaz, oferece insights valiosos que podem ser aplicados à realidade enfrentada por esses profissionais do Direito.
Primeiramente, cumpre ressaltar a semelhança entre o início da atuação do Dr. Simão Bacamarte, quando internava apenas casos evidentes de loucura, e a busca inicial da sociedade por serviços advocatícios em situações jurídicas patentes. Contudo, assim como o alienista ampliou demasiadamente seus critérios posteriormente, a tendência é que a população passe a questionar e desvalorizar o trabalho dos advogados.
Além disso, à medida que os moradores de Itaguaí passaram a rejeitar e desconfiar de Bacamarte, acusando-o de abusar do poder, verifica-se uma percepção social de que os advogados são desonestos e exploradores, buscando apenas o lucro próprio. Muitos alegam poder resolver questões jurídicas sozinhos, com informações disponíveis na internet, tal qual alguns moradores julgavam saber mais sobre loucura que o próprio alienista.
Outro ponto a ser destacado é o desejo do Dr. Bacamarte de construir a Casa Verde e ditar quem é ou não é louco, o que pode representar a luta histórica dos advogados para criar entidades de classe autônomas, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em diferentes Estados.
Por fim, não se pode olvidar a semelhança entre Itaguaí, que oscilava entre pedir orientação ao alienista e depois rejeitá-lo, e a sociedade que, por vezes, procura conselhos de advogados, mas resiste a remunerá-los adequadamente por seus serviços.
Em suma, da mesma forma que a obra de Machado de Assis satiriza o conceito de loucura e o abuso de poder científico, ela também reflete a ambígua relação da sociedade com profissões essenciais, mas por vezes estigmatizadas, como é o caso da advocacia. Trata-se, portanto, de um retrato literário que muito pode contribuir para a reflexão sobre as percepções sociais envolvendo essa nobre carreira jurídica.
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