Guilherme Fonseca Faro
|| Advogado
|| Data: 30.03.2024, 21:24.
Ressureição, nas vertentes religiosas
A crença na ressurreição, ou seja, no retorno à vida após a morte, é um dos conceitos centrais das três principais religiões abraâmicas: islamismo, cristianismo e judaísmo. No entanto, a abordagem e a interpretação desse conceito variam consideravelmente entre essas tradições e dentro de suas diversas vertentes e seitas. Este artigo teológico tem como objetivo explorar as nuances e perspectivas da doutrina da ressurreição nessas religiões, com ênfase especial no judaísmo messiânico de Isaac Aboab da Fonseca.
No islamismo, a doutrina da ressurreição (ba'th em árabe) é um dos pilares fundamentais da fé. O Alcorão menciona repetidamente esse conceito, enfatizando que haverá uma ressurreição no Dia do Juízo Final, quando todos os seres humanos serão ressuscitados e julgados por suas ações nesta vida. A crença na ressurreição está intimamente ligada à noção de responsabilidade individual perante Deus e à expectativa de recompensa ou punição na vida após a morte.
No cristianismo, a ressurreição de Jesus Cristo é o evento central da fé cristã. O Novo Testamento narra em detalhes a narrativa da morte e ressurreição de Cristo, apresentando-a como o cumprimento das profecias messiânicas do Antigo Testamento. A doutrina cristã ensina que, assim como Cristo ressuscitou, os cristãos fiéis também ressuscitarão após o retorno do Messias, recebendo a vida eterna no Reino de Deus.
Já no judaísmo, o conceito de ressurreição não é tão proeminente quanto nas outras duas religiões. Embora algumas correntes do judaísmo aceitem a crença na ressurreição, ela não é considerada uma doutrina central na maioria das tradições judaicas. O foco principal do judaísmo está mais na vida presente e no cumprimento das leis e mandamentos divinos.
No entanto, uma vertente do judaísmo que enfatiza fortemente a crença na ressurreição é o judaísmo messiânico, especialmente a vertente liderada por Isaac Aboab da Fonseca (1605-1693). Esse movimento judaico acredita que Jesus (Yeshua em hebraico) é o Messias prometido e, portanto, endossa a doutrina da ressurreição de Cristo e a futura ressurreição dos mortos.
Aboab da Fonseca, um rabino e escritor judeu português radicado na Holanda, foi um dos primeiros a sistematizar as crenças do judaísmo messiânico. Em seus escritos, ele argumentava que passagens do Antigo Testamento, como Isaías 53 e Daniel 12, apontavam claramente para a vinda do Messias e sua ressurreição. Ele ensinava que Jesus cumpriu essas profecias e que, assim como Ele ressuscitou, haverá uma futura ressurreição dos mortos quando o Messias retornar para estabelecer seu Reino na Terra. Essa ênfase na ressurreição aproximou o judaísmo messiânico de Aboab da Fonseca das doutrinas cristãs sobre o tema, embora ainda mantendo muitas práticas e tradições judaicas. Ele defendia que a ressurreição era uma doutrina presente no judaísmo desde o início, mas que havia sido obscurecida ou negligenciada ao longo do tempo por algumas correntes.
Nos Manuscritos do Mar Morto, antigos textos judaicos descobertos em 1947, também se encontram referências à crença na ressurreição. Alguns grupos representados nesses manuscritos, como os essênios, aparentemente endossavam a doutrina da ressurreição dos justos após a morte, enquanto outros, como os saduceus, a rejeitavam. Essa diversidade de crenças reflete a complexidade do conceito de ressurreição no judaísmo antigo.
Em suma, a doutrina da ressurreição ocupa um lugar central no islamismo e no cristianismo, sendo um pilar fundamental dessas religiões. No judaísmo, embora não seja uma crença universal, a ressurreição é enfatizada por algumas vertentes, como o judaísmo messiânico de Isaac Aboab da Fonseca. Independentemente das interpretações e ênfases específicas, a crença na ressurreição representa a esperança de uma vida eterna, a promessa de recompensa pelos atos terrenos e a vitória última sobre a morte.
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