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Foto do escritorGuilherme Fonseca Faro

O precursor da Literatura Judaica, no Novo mundo.

Guilherme Fonseca Faro

Advogado | OAB de n°35.334

Data: 18.03.2024, 21:00.

 
Vários judeus juntos
Tradição

O precursor da Literatura Judaica


No século XVII, quando a intolerância religiosa assolava a Península Ibérica, um homem notável emergiu como um farol de esperança para a comunidade judaica no Brasil Holandês. Isaac Aboab da Fonseca, rabino, escritor e intelectual, enfrentou adversidades e desafios para deixar uma marca indelével na literatura e na cultura judaica das Américas. Sua trajetória, repleta de coragem e determinação, é um testemunho vivo da resiliência do povo judeu em tempos de perseguição.


	Em 1641, Aboab da Fonseca desembarcou no Recife, acompanhado pelo rabino Raphael d'Aguilar, tornando-se o guia espiritual da comunidade judaica Tzur Israel. Sua presença trouxe uma nova dimensão à vida comunitária, fortalecendo os laços culturais e religiosos daqueles que haviam encontrado refúgio naquela terra estrangeira. Como líder religioso, desempenhou diversas funções, como celebrar casamentos, realizar circuncisões e proferir sermões sobre o Talmud.

Durante o cerco luso-brasileiro ao Recife, em 1646, Aboab da Fonseca compôs o poema Mi Chamocha (Quem como Tu?), uma obra-prima que registrou o sofrimento e a resistência dos judeus naquele período turbulento. Com versos pungentes e evocativos, o poema descreve a fome, o medo e a determinação da comunidade em defender sua liberdade religiosa. Esse poema não apenas eternizou uma época sombria, mas também marcou o início da literatura hebraica no continente americano, sendo considerado o primeiro texto literário desse gênero no Novo Mundo.


Com a expulsão dos holandeses do Brasil em 1654, Aboab da Fonseca retornou a Amsterdã, onde reassumiu o cargo de rabino da congregação Talmud Torah. Sua produção literária, no entanto, não cessou. Em 1655, publicou a tradução hebraica de uma obra cabalística espanhola, Shaar haShamayim, demonstrando sua erudição e interesse por diferentes vertentes do pensamento judaico.

Em 1656, um ano após seu retorno, Aboab da Fonseca desempenhou um papel central na excomunhão do filósofo Baruch Spinoza, lendo a sentença que o expulsava da comunidade judaica de Amsterdã. No mesmo ano, foi eleito Rosh Yeshivá (Diretor da Academia Talmúdica) da instituição Torá Or, consolidando sua reputação como um líder acadêmico e intelectual respeitado.


Em 1675, Aboab da Fonseca incentivou e participou ativamente da construção da Grande Sinagoga Portuguesa de Amsterdã, tendo seu nome inscrito na entrada do edifício. Esse ato simbólico representou o reconhecimento de sua contribuição para a comunidade judaica holandesa. Além disso, em 1681, lançou um comentário sobre os Cinco Livros de Moisés, intitulado Paraphrasis comentado sobre El Pentateuco, em espanhol, consolidando seu legado como um erudito e pensador respeitado.

Isaac Aboab da Fonseca foi um verdadeiro pioneiro da literatura judaica no Novo Mundo, um homem cuja coragem e devoção à fé deixaram uma herança duradoura. Seu poema Mi Chamocha é um testemunho poderoso da capacidade humana de superar adversidades e encontrar força na fé e na comunidade. Sua trajetória é um lembrete da importância de preservar a identidade cultural e a liberdade religiosa, valores que ecoam até os dias atuais. Aboab da Fonseca não apenas enriqueceu a literatura judaica, mas também inspirou gerações futuras a abraçar sua herança e a lutar por um mundo mais tolerante e justo.



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